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4 de março de 2012

Eu construo, tu constrói!

Caros amigos do Musica per Bambini 


Essa semana tivemos a novidade do lançamento de nossa página no Facebook. Foi um grande sucesso e já temos mais de 110 amigos que "curtiram" a página. Para fazer jus aos amigos e colaboradores do Projeto, que se juntaram a nossa causa, nada melhor do que retribuir não só com o cuidadoso trabalho do Musica per Bambini, mas também com conteúdo que informa e ajuda nosso público, não é mesmo? 

Acabei de receber meu exemplar da revista "Nova Escola". Atualmente é a revista de banca mais famosa de Educação aqui no país. É, também, democrática teoricamente, pois permite que educadores das mais diversas correntes pedagógicas e epistemológicas se manifestem, todos em prol de enriquecer a prática profissional daquele professor que está no "campo de batalha". 


A capa da Edição Nº250 (março, 2011) traz uma ótima reportagem sobre o conceito do ERRO em sala de aula. E isto tem tudo a ver com o que a teoria por trás do Projeto Musica per Bambini. Comecei a ler o artigo e fiquei tão feliz com a didática que foi aplicada para demonstrar o conteúdo. É por isso que não me surpreendi quando um dos colaboradores era meu querido professor Fernando Becker (UFRGS). Depois de uma longa introdução, vamos ao que interessa? 

Em nossa aula de música, o familiar adulto da criança (aluno) se pergunta o que eu estou esperando de reação dos pequenos quando proponho uma atividade. Em alguns casos, observamos certa ansiedade para que a criança realize o que foi solicitado de maneira correta e convencional. Imaginem algumas cenas a partir da descrição mais visual que tentei fazer:

Exemplo 1) Com uma caixa de instrumentos de percussão variados cria-se certa expectativa em que a criança identifique uma baqueta como uma extensão do próprio braço, um tambor como algo que se percute e uma pulsação constante como a freqüência certa para operar o instrumento. 

Exemplo 2) Em uma dança de roda com alguns movimentos coreográficos (bater palmas, girar no próprio eixo, dirigir-se para o centro do círculo e para fora, etc.) espera-se que a criança consiga dar a mão para qualquer colega (pegue o mais próximo e resolva-se) saiba para que lado ir, quanto tempo manter-se no "circulo imaginário", soltar as mãos, realizar os movimentos em acordo com a canção e mostrar, mais do que tudo, satisfação plena com a brincadeira, tendo ou não realizado-a da forma "correta" que os adultos esperam. 

Exemplo 3) Hora de ficar quieto para uma "massagem musical". Ora! A música é lenta e um pouco melancólica. A letra fala da relação entre pai e filho. Se a criança não deita no lugar apropriado e se entrega ao momento é sinal de dispersão, transgressão e, mais do que tudo, não tem vocação para as artes, precisamos levá-los para uma prática esportiva! 

Esses três exemplos refletem, de forma caricata, o comportamento de alguns adultos que circundam o universo da criança e, infelizmente, a prática de alguns professores. E a explicação de como um professor construtivista e interacionista enxerga essas atividades estão bastante bem descritas nas páginas 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46 e 47 da Revista que falei lá em cima. 

Lidar com o erro não significa induzi-lo, não significa sonegar informações sobre como as coisas devem ser, não significa que cada criança devesse criar um mundo só seu, nomeando as coisas a seu bel-prazer inventivo, ou usando uma baqueta para coçar a orelha do início ao fim do ano. Essa é a primeira lição. 

Lidar com o erro significa permitir que a criança se detenha a imprescindível tarefa da exploração sem culpa e sem cobranças onde possa ver se, aquilo que já sabe sobre as coisas (os tais dos esquemas e estruturas de Piaget), funciona na situação nova. Por exemplo: "Hm! Baqueta tem formato de cotonete; mamãe limpa meu ouvido e umbigo todo dia com um assim; Já sei o que vou fazer!". Se essa exploração for "mal-sucedida" (não coube na orelha!!) provocará um desequilíbrio cognitivo na criança, o qual será a porta de entrada para a criação de novidades sobre como usar a baqueta. É assim o tempo todo, com todos nós. Essa é a segunda lição. 

Deixa explorar, deixa descobrir!
Lidar com o erro significa que, quando proponho uma atividade, com vistas a construção do conhecimento, não me interessa apenas o sucesso na execução de uma tarefa, pois isso demonstra o que já foi construído. Interessa-me, na verdade, compreender, através de sua atitude, o esforço que a mente está fazendo para resolver "o problema". É esse esforço, as tomadas de decisão da criança, que vão me ajudar a diagnosticar o pensamento dela e, ao mesmo tempo, provocar que novas aprendizagens aconteçam (sim, as redes neurais se ampliam nesse momento!). Essa é a terceira lição. 

Eu, como professora, preciso estar atento para oferecer ao grupo (ou a cada criança) uma tarefa para "resolver" que permita esse processo, esteja no limiar superior do que ela já é capaz de resolver bem. Ao mesmo tempo, a atividade não pode ser tão inacessível que a não-realização frustre a criança (ainda mais quando a criança consegue mais ou menos entender os enunciados e o que eu sugeri que fizéssemos). A escolha da atividade certa é o grande desafio do professor. Essa é a lição mais importante. 

As vezes, uma roda é assim...
O erro nos ajuda a diagnosticar como a criança pensa. O erro ajuda a criança a sentir necessidade de criar um novo jeito de resolver o problema. Permitir o erro e, a partir dele, jogar estrategicamente com a criança para ela descobrir que a resposta "ao problema" não funciona e que ela necessita de outro jeito de pensar, agir, escrever, dançar para funcionar é, para mim, o que significa a "divina arte docente". 

Deu pra compreender um pouquinho? Esse tópico, com mais exemplos práticos e explicações, voltará em breve. Um abraço a todos!

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